sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A TRIBO (Intro)

É com enorme prazer que divulgo o primeiro texto de um grande amigo que preferiu usar o pseudónimo de "Lee" ...

O silêncio imperava com uma calma sublime e tudo estava em harmonia.
O chilrear de um rouxinol trouxe a sagrada melodia até aos ouvidos do velho mestre que o fez despertar de uma maneria suave, replecta de amor.
Ainda estava noite, ele permaneceu deitado com os olhos fechados atento ao seu redor e retribuiu ao rouxinol o carinho que este teve para com ele, felicitando-o pelo seu regresso ao físico…
Deu meia volta e com um movimento firme sentou-se na humilde esqueira de bambu.
Inspirou profundamente e sentiu o pulsar do seu coração, aguentou por breves segundos e depois expirou de tal forma “mágica” que o seu Ki produziu como que um assobiu ventoso (semelhante ao da chaleira quando está a ferver) mas este era diferente, tinha um tom próprio, uma marca…
O calor percorreu o seu corpo e o mestre, levantou-se.
À sua volta tudo era simples, vivia numa cabana feita de bambu, o suficiente para o proteger das noites mais agrestes passadas na montanha.
Ele refugiava-se por longos tempos, para se purificar, para ficar mais próximo de algo, ficar mais próximo dele próprio.
Toda esta preparação era já uma rotina para o mestre, pois sempre tinha uma encomenda, ele dedicava-se de corpo e alma, para apenas emanar o mais puro, em cada pulsar do seu coração quando em contacto com o aço.
O velho mestre trabalhava o aço, construia de tudo um pouco mas o que lhe dava mais prazer era construir “UMA ESPADA”, pois cada uma era singular, construida por uma história, eram criações suas, as quais via como que filhas. Ele mantinha a sua arte de forjar espadas segreta, tinha que seguir as normas da tribo, pois apenas lhe era permitido fabricar espadas para elementos da tribo, previamente autorizadas…
As suas criações eram diferentes, mesmo dentro da tribo outros tinham tentado igualar a sua capacidade, ele não escondia segredos, o seu segredo era o seu EU, a forma como ele se entregava.
O seu Ki era de tal forma brilhante que se igualava à luz de estrelas cadentes, era essa a sua marca, que empregnava o aço e se fundia com este para dar forma à espada.
O mestre saiu da cabana e sentou-se numa rocha, situada a poucos metros, era o seu lugar de eleição para meditar, conseguia ver todo o vale mas o melhor era poder comtemplar o nascer do sol. Todos os dias fazia questão de saudar o amado Sol, mesmo que o tempo o impedisse de o ver, ele mantinha a sua fé inabalável, pois sabia que ele estava lá e que de alguma forma os seus raios o tocavam. Se afastavam a escuridão, era prova suficiente para ele que os raios chegavam também até ele.
O Sol lançou os seus primeiros sinais, ao fundo a luz amarela afugentava o negrão da noite, a vida na montanha parecia começar acordar, o silêncio permanecia, mas o mestre sentia o aconchego dos elementos a vibrar com a luz Solar. E o Sol apareceu forte, envolvendo tudo e todos.
A energia era de tal forma reconfortante que o velho mestre fechou os olhos e esboçou um sorriso replecto de alegria interior, para o Sol, em forma de saudação e agradecimento.
Abriu os olhos e a luz estava agora presente, saudou a Mãe natureza pela sua bondade e descendo da rocha, dirigiu-se para a sua oficina improvisada, era mais uma cabana feita de bambu, mas tinha tudo o que necessitava para poder laborar o aço. Desde o forno, ao torno, aos recipientes de água especiais que tinha projectado, para conseguirem recolher a humidade da noite, retida no telhado.
Estava prestes a terminar a sua nona espada, esta ainda não tinha dono, a tribo sabia que sendo a nona espada, seria uma espada mística e que teriam que ser os Deuses a mostrar o caminho, ao verdadeiro dono.
Ele esmerou-se, quis que esta fosse a sua obra prima…

LEE